3 de setembro de 2010

Pastoral



Enquanto vocês vão...
Rev. Djaik Souza Neves

Meditar mais uma vez no conhecido texto da grande comissão, me levou de forma mais detida a pensar na relação de nossa vida normal aqui neste mundo com a missão que nos foi dada; pensei não diretamente no mandato para evangelização ou discipulado, mas na relação desse com a nossa vida comum, justamente porque a ordem dada por Jesus estabelece esta relação essencial que normalmente tem sido desconsiderada, enquanto se valoriza uma em detrimento da outra.
Como já tem sido amplamente conhecido, o “ide” assim traduzido, na verdade é “indo” no original grego, mas também, como sugerimos no título deste, “enquanto vocês vão”; pode não parecer a princípio, mas o modo como Jesus originalmente falou, registrado pela pena de Mateus, é especialmente relevante no que se refere à conciliação entre a nossa vida e a missão que nos foi dada.
Uma nova leitura da grande comissão como propomos aqui, nos faz perceber que a ordem de Jesus tem uma abrangência e implicações muito maiores do que estamos acostumados a pensar e provavelmente a praticar.
 “Enquanto vocês vão” significa que mesmo que permaneçamos onde estamos (e normalmente a maioria de nós permanece) fomos chamados para, ali, vivermos como discípulos e levarmos outros a conhecer a Jesus de perto através de nossas vidas e testemunho verbal.
 “Enquanto vocês vão” significa que Jesus não planejou que seu povo fosse meramente um gueto, um grupinho fechado que se diz salvo e caminhando para o céu, mas estabeleceu que estivéssemos neste mundo, mesmo sem ser do mundo, fazendo o que todas as pessoas fazem normalmente, com o diferencial de que possuímos a vida de Deus em nós e um chamado especial para conduzir outras pessoas ao conhecimento de Jesus.
 “Enquanto vocês vão” estabelece que somos todos parte de um povo em missão e que, de fato, existem aqueles que recebem uma incumbência de ir para outros lugares ou, mesmo, para assumirem uma liderança oficial como pastores, presbíteros, evangelistas e afins, mas Jesus nos mostra que são missionários igualmente aqueles que ficam ou que não foram eleitos ou designados para quaisquer cargo, mas de igual modo foram chamados para conduzir outras pessoas a Jesus.
Já foi dito que quem “não é missionário é campo missionário”. O Mestre deixou claro que, tendo sido feitos discípulos, chamados para andar com Jesus, aprender com Ele e segui-lo de perto, naturalmente nos tornamos missionários, visto que foram justamente os discípulos que foram chamados para fazer outros.

Rev. Djaik Souza Neves
Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
Mestrando em Teologia Sistemática pelo Andrew Jumper-SP.


19 de agosto de 2010

Um pouco sobre o trabalho da Capelania...



“A Pedagogia da Cadeira”1
                 O título acima é “plágio” de um livro recentemente lançado, enfocando o trabalho de capelania nas escolas; tomei emprestado o título porque como o autor defende e espero que percebamos através do que se segue, mais do que nunca precisamos refletir e praticar o que pode ser realmente chamado de “Pedagogia da Cadeira”.
                É repetitivo, mas necessário reiterar que conquanto a necessidade de relacionamentos saudáveis e significativos seja premente e evidente em nossas vidas, as pessoas parecem cada vez mais sozinhas e solitárias, a ponto de se esconderem em relacionamentos hoje chamados de virtuais quando, como muitos fazem, podem-se ter centenas de amigos no orkut, mas não se ter intimidade com quem quer que seja, ou quem sabe teclar com outros tantos no Messenger mas não conhecer e nem ser conhecido por ninguém.
                O propósito dessa palavra é nos levar a pensar sobre a necessidade que todos temos de duas coisas simples: ouvir e falar. Temos necessidade de ouvir porque carecemos de orientação para que possamos viver melhor e não sermos levados pelo nosso próprio coração enganoso, precisamos ouvir porque, frequentemente, só nos conscientizamos de algum erro quando alguém corajosamente o aponta para nós; mas também temos necessidade de falar porque não damos conta de carregar sozinhos os pesos decorrentes dos problemas que enfrentamos e as cargas emocionais que lhes seguem; não é à toa que se diz que os psicólogos são pagos especialmente para ouvir as pessoas (o que certamente também reflete a superficialidade das relações em nossos dias). Ouvir e falar, em resumo, tem a ver com a própria natureza relacional com que fomos criados, fomos criados para a comunhão e não para a solidão.
                A pedagogia da cadeira indica justamente a combinação decisiva destas duas práticas essenciais à nossa própria saúde relacional e esquecidas na correria da vida: ouvir e falar; podemos pensar na cadeira como um símbolo da necessidade urgente que temos de parar um pouco, quem sabe tomando consciência de que a nossa ansiedade não resolve coisa alguma e constantemente atrapalha bastante, o próprio Deus insiste de forma enfática em sua revelação a necessidade de pararmos de correr e aprendermos a descansar e esperar nEle; a cadeira vazia pode representar um convite gracioso que podemos fazer a tantos que nos cercam, angustiados, precisando de alguém que se disponha a ajudá-los, por vezes, simplesmente, através de uma cadeira disponibilizada e um ouvido atento.
                O ambiente escolar, mais do que em qualquer tempo, carece de cultivar a pedagogia da cadeira. Tenho encontrado muitos professores estressados com seus muitos afazeres, outros tantos deprimidos por não suportarem a carga de preparação de aulas, problemas com alunos, baixos salários, além das demandas comuns de casa, cônjuge, filhos e os problemas que os seguem; e mesmo nossos alunos antes tão tranquilos, parecem ter sido contaminados pela correria e injustificada urgência acabando por perder a oportunidade da criancice, jovialidade e alegria.
                A nossa expectativa é que você tome as palavras acima como um convite, quem sabe um desafio ou até um apelo pra que você se assente numa cadeira com alguém o quanto antes, abra seu coração, compartilhe sua vida, divida sua carga, confesse seus pecados, peça ajuda; ou quem sabe, ofereça uma cadeira vazia a alguém necessitado, seja um ouvido atento, abrace alguém, quem sabe até insista com algum outro para que se assente com você e usufrua de sua presença, enfim, ame a ponto de separar um tempo para chamar alguém para a intimidade da cadeira que pode trazer descanso e restauração para a alma cansada.
                Compartilhei este artigo com os professores e reconheci que, por vezes, preciso de alguém que tenha uma cadeira vazia à minha disposição onde possa me assentar e compartilhar minhas necessidades e desilusões e, mesmo, minhas alegrias e vitórias; ainda acrescentei que, em nossa escola eles podem contar sempre com uma cadeira vazia à disposição, quando precisarem de um ouvido atento, uma palavra de orientação, um ombro onde chorar e especialmente um momento de oração quando todos podemos nos colocar na cadeira sempre disponível do “maravilhoso conselheiro” onde sempre podemos encontrar graça em tempos de necessidade.
                Seja qual for sua realidade de vida, reafirmo que todos precisamos da “Pedagogia da Cadeira”, seja para nos assentarmos nela e usufruirmos do tempo que alguém disponibilize para nós ou para oferecermos o nosso tempo para dar lugar a alguém que precisa de descanso e restauração.

Rev. Djaik Souza Neves
Capelão do Instituto Samuel Graham – Jataí-GO.
Mestrando em Teologia Sistemática pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper 


1 Ferreira, Sérgio Rodrigues, A Pedagogia da Cadeira. Campinas-SP,Ed. Transmundial, 2010.

9 de junho de 2010

A Bênção de Estar em Cristo

Frequentemente, diante das crises que nos assaltam ou, mesmo do pecado que "tenazmente nos assedia" ficarmos desanimados ou desiludidos, ora achando que Deus nos abandonou e estamos à mercê das circunstâncias deste mundo, especialmente de seus infortúnios; ora achando que cometemos o "pecado imperdoável" por assim dizer, e assim nos vemos como se estivéssemos distantes do Senhor por conta de nossos pecados, como se Deus nos tratasse com base neles.
Para ambas as situações, seja de problemas sobre os quais não temos controle ou de pecados que tenhamos cometido, a justiça com a qual fomos revestidos em Cristo é a solução ideal, pois estabelece que Deus mesmo providenciou algo que torna certo o cuidado especial de Deus para conosco em tempos de crise e a graça sem medida com respeito ao pecado.
Calvino afirma que "sendo nós impuros, ele é a nossa pureza; sendo nós fracos e destituídos de forças e da necessária armadura para resistir ao diabo, o poder que a ele foi dado no céu e na terra para destruir o inimigo e arrombar as portas do inferno é nosso; tendo ainda um corpo mortal, ele é vida para nós."
O que o reformador explica em termos bem mais apropriados do que os que podemos utilizar é aquilo que Deus nos deu ao nos conceder a justiça e a retidão de Cristo. Tendo nos escolhido "nEle" antes da fundação do mundo, como o apóstolo assevera, Deus mesmo providenciou para que os nossos pecados fossem colocados sobre Jesus na maldita cruz e a sua justiça posta sobre nós.
Isto significa que em tempos de crise podemos continuar certos de que Deus está cuidando de nós, não importam quão difíceis e desanimadoras sejam as circunstâncias; por causa da justiça de Cristo em nós, Deus está fazendo e irá fazer com que tudo coopere para o nosso bem.
Isto significa que em tempos de tentações ou, mesmo, pecados não precisamos permanecer distantes do Senhor como se houvesse alguma possibilidade de sermos consumidos pela sua santa ira; se já estamos em Cristo, isto não é mais possível, pois Ele já nos livrou dela, tomando-a sobre si mesmo no cavário; nas palavras do profeta "o castigo que nos traz a paz estava sobre ele". Aleluia! Por isso, mesmo quando pecarmos, o Senhor nos desafia por meio de João, o discípulo amado (e nós também somos), a nos aproximar de novo, pois temos um advogado, um intercessor que nos representa e nos defende diante do santo juiz.
Um exemplo claro de como podemos usufruir deste benefício sensacional nos piores momentos da vida é Davi, que um dia teve sua cidade saqueada e queimada, suas mulheres e seus filhos sequestrados; o que o levou, juntamente com seus homens, a chorarem como crianças todo um dia, situação que se complicou ainda mais para "o homem segundo o coração de Deus", pois seus "leais" homens colocaram nele a culpa pelo infortúnio e ameaçaram apedrejá-lo; mas, de repente, e surpreendentemente, diz o texto de 1 Samuel 30.6, "porém Davi se reanimou no Senhor, seu Deus", certamente por saber que Deus o amava e estava cuidando dele, mesmo que aparentemente as coisas estivessem tão confusas; numa outra ocasião, mesmo tendo pecado gravemente contra Deus, prejudicando várias pessoas, bastou reconhecer o seu erro diante do profeta enviado pelo Santo, que foi imediatamente perdoado e depois pôde explicar num salmo porque foi perdoado tão "facilmente" diante de pecados tão graves, dizendo "bem aventurado é o homem a quem o Senhor não atribui iniquidade", em outras palavras, feliz é o homem que Deus não trata conforme o seu pecado.
Tudo isso porque Cristo está em nós, e onde está o Filho a bênção graciosa do Pai também está. Não há nada mais que precisamos
Rev. Djaik Souza Neves
Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
Mestrando em Teologia Sistemática pelo Andrew Jumper-SP.

26 de janeiro de 2010

LIVRE-ARBÍTRIO E SOBERANIA DE DEUS

É muito comum tanto no meio evangélico como fora dele a defesa do chamado livre-arbítrio, que pode ser definido como a capacidade humana de tomar decisões livres (no sentido mais forte da palavra que se puder imaginar); fala-se desta capacidade como se isto fosse a própria essência do ser humano ou algo imprescindível à sua existência. O problema quanto a isso é que, como iremos ver, se a tal liberdade humana para tomar decisões for levada às suas consequências últimas, então acabaremos por anular algo realmente essencial própria realidade da vida.
Mais uma vez fui levado a pensar neste assunto enquanto lia “O Mundo de Sofia”, um instrutivo e interessante romance sobre a história da filosofia. Curiosamente quando fala sobre destino e idéias semelhantes, o autor comenta sobre o livre-arbítrio e, talvez sem perceber a relevância do que iria dizer, acaba fazendo uma afirmação que nos coloca diante de duas idéias que, ainda que para muitos não pareça, são mutuamente excludentes pois não podem ser, ambas, verdades.
"A última pergunta era a mais difícil. Sofia nunca tinha refletido sobre o que governa o curso da história. Não seriam as próprias pessoas? Se fosse Deus, ou o destino, as pessoas não teriam livre-arbítrio." Penso que dificilmente poderia haver mais precisão sobre um assunto tão controvertido e delicado, mas que não se pode deixar de definir.
Infelizmente, no afã de defender a suposta liberdade humana, muitos tem desprezado aquilo que tem sido tão caro aos que crêem no Deus da Bíblia, no que se refere à Teontologia ou doutrina de Deus, conforme revelada nas páginas das Escrituras, a soberania de Deus sobre todas as coisas.
Há quem diga que quando os que deveriam falar, silenciam, as pedras falam. Podemos, então considerar Jostein Gaarder como um Caifás dos tempos modernos que, o sumo-sacerdote que presidiu o julgamento de Jesus e que sem querer profetizou a morte vicária de Cristo, dizendo que convinha que morresse um só homem em lugar de toda a nação.
Segundo uma interpretação honesta e corajosa das Escrituras (e só pra resumir Moisés, Isaías, Jeremias, Jesus e Paulo dão um destaque especial ao assunto), o narrador do livro tem toda razão, ou Deus governa sobre cada parte da criação ou o homem possui o livre-arbítrio. E quanto a isto, precisamos assumir uma posição, pois não se trata de algo periférico ou pouco importante, mas daquilo que o homem é em relação ao Criador e, especialmente, da própria natureza do Deus da Bíblia e consequentemente se relaciona aquilo que aconteceu, está acontecendo e ainda irá acontecer neste mundo.
O fato é que, conforme os escritores bíblicos citados e outras tantas passagens da Bíblia às quais poderíamos recorrer, Deus governa, sim, sobre tudo e sobre todos e nada escapa ao seu abrangente domínio. Aprendemos pela Palavra que, mesmo aquelas coisas que consideramos tão naturais, como chuva, vento, neve, relâmpagos e, até, o alimento dos animais são ordenados diretamente pelo providente Deus que as Escrituras nos apresentam. Jesus chegou a dizer que sequer um fio de cabelo ou um pardal cai por mero acaso; se isto não é uma pista para nos mostrar que Deus planejou e conduz a história nos seus mínimos detalhes, então não se sabe o que é.
Mas visto estarmos tratando de livre arbítrio, sei que muitos vão reivindicar exemplos de pessoas fazendo o que Deus ordenou ou decretou e, por assim dizer, não podendo fazer outra coisa, senão isto. Quanto a esta questão, impressiona-me a ousadia de alguns que tentam justificar o endurecimento de Faraó por parte de Deus, quando a própria Escritura na segunda vez que fala sobre o assunto através de Paulo, o faz justamente para mostrar que Deus faz exatamente aquilo que quer, mesmo que isto envolva o coração e a vontade de suas criaturas; é importante ressaltar que ambos os textos falam do assunto para explicar, respectivamente, o propósito de Deus em promover a glória do seu próprio nome e, o que podemos chamar aqui, de independência de Deus; ele faz exatamente aquilo que quer e não precisa dar satisfação para ninguém, nas palavras do pagão Nabucodonosor , "não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer que fazes?"
Além de Faraó e Nabucodonosor, um outro rei chamado Senaqueribe é exposto na Bíblia como quem foi usado por Deus para realizar Sua vontade e, mesmo se arrogando de forte e invencível, segundo o próprio Deus de Ezequias, ele estava fazendo exatamente aquilo que Deus havia estabelecido, com o propósito de finalmente ser derrotado por Ezequias e glorificar o todo-poderoso. Um outro exemplo da mão invisível de Deus conduzindo a história é José que, segundo o relato de Moisés, Deus transformou em bem a inveja e maldade dos irmãos dele, mas o salmista vai além disso e declara que foi o próprio Deus quem enviou José ao Egito, o que combina com a previsão que Deus já havia feito de que eles seriam sujeitos à escravidão em terra estrangeira.
Além disso, o acontecimento mais importante de toda história, é descrito como tendo sido planejado por Deus com a maior antecedência possível, mostrando também que nem mesmo a própria queda no pecado foi um acidente ou fruto meramente da vontade livre do homem; que sentido faria, podemos perguntar, a morte de Jesus ter sido planejada em seus mínimos detalhes enquanto a queda e a morte do homem no pecado ter sido reservada a uma possibilidade? (dependente da escolha livre humana); é muito melhor ficarmos com os dados bíblicos que nos ensinam que o cordeiro (de Deus que tira o pecado do mundo) foi morto antes da fundação do mundo, o que por uma questão de lógica aponta para a realidade de que o motivo da morte do cordeiro também foi estabelecido na eternidade.
Entendo que muitos acreditam no livre-arbítrio porque acham que isto preserva Deus de ser mal ou cruel e imaginam que a não existência de tal realidade como que tira do homem a responsabilidade pelo que faz, mas pensando assim nós estamos mais uma vez rebaixando Deus às nossas próprias convenções e julgamentos e fazer isto é perder a noção de que Ele é o Criador e nós somos criaturas e não cabe a nós julgar quaisquer atitudes dele; além disso, a responsabilidade na Bíblia não é estabelecida por alguma liberdade que o homem tenha de fazer isto ou aquilo, mas pelo conhecimento que ele possui e recebe.
De acordo com a Palavra de Deus, podemos dizer sim que quem governa a história é o Senhor; e o homem, os anjos bons e ruins, os fenômenos da natureza são, sim, instrumentos também estabelecidos pelo próprio Deus para cumprirem o seu propósito. É importante destacar que isto não significa que o homem não seja livre num certo sentido e capaz de tomar decisões que afetam sua vida e a de outros; mas significa que não há qualquer possibilidade que ele seja livre de Deus de alguma forma. O homem é, sim, um ser pensante e capaz de tomar decisões importantes no que diz respeito ao seu semelhante e à criação, no entanto, como Davi confessa no salmo 139, Deus não só nos formou desde o ventre, mas também escreveu todos os nossos dias no seu livro.
Finalmente, para aqueles que ainda podem se queixar por saber que “procede do altíssimo tanto o mal como o bem” (ainda que o Senhor seja justo, santo e bom (como a sua lei) e faça tudo com um bom propósito), vale a assertiva do profeta: “Porque, pois, se queixa o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados.” Ou ainda a palavra final do apóstolo Paulo em Romanos 9 sobre o assunto: “Quem és tu ó homem para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez? Por que me fizeste assim?”
Referências Utilizadas: João 11.47-52; Salmo147.8,9; Salmo 139.16;Salmo 104.19-30; Mateus 6;Mateus 1-.29-31; Êxodo 4.21;9.12; Romano 9.14-18; 2 Reis 19.25; Gênesis 50.20; Salmo 105.17; Atos 2.22,23; 1 Pedro 1.18-20; Apocalipse 13.8; Daniel 4.35; Lamentações 3.37-39.

Rev. Djaik Souza Neves
Capelão do Instituto (Presbiteriano) Samuel Graham em Jataí-GO.
Mestrando em Teologia Sistemática pelo
Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper

5 de janeiro de 2010

RESOLUÇÕES NECESSÁRIAS

Antes de tudo, preciso confessar que conquanto esteja de férias e na expectativa do novo trabalho, as palavras que se seguem não foram fruto de uma reflexão tão profunda como imagino que deveriam ser e os mais exigentes com certeza vão concordar. Por isso, convido aos que lerem esta "reflexão" que as vejam como uma proposta e, quem sabe, um chamado à reflexão sobre o melhor que podemos fazer no ano que já se iniciou.


A expressão resolução pode parecer "lugar comum" (e talvez seja mesmo), visto ser amplamente utilizada; no entanto, ainda que não seja prudente deixar para tomar decisões ou mudar de direção na vida somente nos finais ou começos de ano, o fim ou começo de mais um ano inevitavelmente é uma excelente oportunidade para reflexão, avaliação e, realmente, resoluções que podem melhorar a vida no decorrer do ano

Um pastor amigo e conselheiro, que está na mesma igreja por mais de vinte anos me disse certa vez que a cada ano ele começa de novo e, sem dúvida, como é evidente, não sem resoluções necessárias para que as coisas possam melhorar.

Quando falo de RESOLUÇÕES NECESSÁRIAS, de propósito, como o assunto o exige, estou sendo seletivo no sentido mais exato que conseguir, pois gostaria de chamar a minha e a sua atenção para aquilo que não pode faltar em nossa vida, e que curiosa e tragicamente com frequência perdemos de vista. Explico para não correr o risco de não confundir (lembre-se este é apenas um convite à reflexão), resoluções necessárias são aquelas coisas que não podem faltar em nossa vida em 2010 e nos demais anos que se seguirão.

Ligado a isso, eu não poderia deixar de ressaltar (pois estaria ferindo a minha consciência), ainda que de leve, aquelas reoluções que parecem necessárias, mas na verdade não são e se assim não forem consideradas com certeza vão prejudicar a atenção devida que devemos dar àquilo que não pode faltar em nossas vidas.

Curiosamente, o que a igreja contemporânea mais tem pregado é justamente aquilo que nos distrai do que é mais importante e acaba por nos confundir e nos fazer desviar, visto apelar para as chamadas necessidades sentidas, daí serem resoluções que parecem necessárias, o apelo quanto a elas é especialmente forte.

Resoluções que parecem necessárias é comprometer-se a, no ano de 2010 lutar para comprar uma casa, um carro (ou trocar a caranga), uma fazenda e, quem sabe outros, um computador, uma roupa melhor e mais uma monte de outras coisas que consideramos necessárias (e a igreja Neopentecostal diz que é essencial, visto sermos filhos do Rei). Pensar sobre isso me fez lembrar de um carro puxando um barco que o Pastor Charles Swindoll diz ter visto uma certa vez, onde estava escrito: “o sonho da minha vida”, o que o fez pensar: “se o sonho da vida deste indivíduo é isto, então alguém mais infeliz não pode existir”.

Resoluções que parecem necessárias é assumir algum tipo de posição em que você se coloca como quem, a partir daquele momento vai concentrar todos os seus esforços em buscar alívio para seus sofrimentos, seja ele de que natureza for. Eu sei que em nossa mentalidade, muitas vezes moldada pelos movimentos pentecostal e neopentecostal, falar contra isso parece quase masoquista, um anseio insano pelo próprio sofrimento. Concordo. Salomão parece mesmo insano quando diz que é melhor ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há uma festa; Habacuque quase não é mais citado hoje em dia, pois ele afirma algo como “ainda que a crise tenha chegado em nossa casa de forma avassaladora e tenha levado todos os nossos recursos, até aqueles considerados básicos para a subsistência, todavia, eu louvo a Deus e pulo de alegria no Senhor da minha salvação”; Jesus parece desconhecido em meio a uma geração que parece ter a mesma convicção do jovem rico, de que poderia ter a vida eterna e ao mesmo tempo continuar com o coração nas coisas daqui. Paulo seria taxado de “tradicional” e “pobre de espírito” se tivesse suas palavras “tudo posso naquele que me fortalece” entendidas no seu contexto, em que ele está preso, correndo o risco de morte e diz que pode passar por qualquer situação (e até continuar naquela) porque Deus o fortalece.

Disto isto, precisamos pensar propriamente nas resoluções necessárias (se não vou parecer louco também) para o ano de 2010.

Você e eu deveríamos levar mais a sério os constantes chamados bíblicos para que examinemos nossa vidas e avaliemos nossa caminhada. Podemos ter surpresas desagradáveis em nossa vida particular, familiar, profissional, relacional e eclesiástica, se, como Paulo disse aos efésios, olharmos com atenção como temos andado, mas é melhor um diagnóstico preciso do que a ilusão de que está tudo bem.

Você e eu deveríamos tomar Jesus muito a sério quando ele diz que para que sejamos seus discípulos nós deveríamos renunciar a tudo ou tomar a cruz e morrermos todos os dias a fim de vivermos para ele e somente para ele. Em suas palavras, quem não fizer isto “não pode ser meu discípulo”. 2010 será muito melhor se tomarmos a decisão de pararmos de brincar de igreja e realmente sermos homens e mulheres que “deixando tudo” andam com o Senhor e vivem somente para Ele.

Você e eu deveríamos cultivar uma relação próxima e profunda com Palavra de Deus, conforme registrada nas Escrituras Sagradas. É por ela que aprendemos de Jesus e assim somos sustentados pela sua graça. É uma resolução necessária fazer da Bíblia o alimento diário para as nossas almas, assim como não podemos ficar sem o alimento para o nosso corpo sequer um dia. Resolva ler e meditar na Palavra de Deus todos os dias de 2010, estabeleça um horário e lugar apropriados; ainda que se corra o risco de não cumprir com este compromisso um dia ou outro, fazê-lo já mostrará que você entendeu a necessidade que tem da direção e sustento seguros da revelação de Deus para sua vida. Junto com isso procure ler bons livros, tanto aqueles específicos para edificação na vida cristã como aqueles de cultura geral, que podem ajudá-lo a ter uma visão melhor da vida.

Você e eu deveríamos valorizar mais a família que o Senhor nos deu. 2010 será muito melhor para nós se entendermos que devemos fazer da nossa casa um lugar de paz e tranqüilidade, levando em consideração que, também para isso, precisamos declarar guerra à falta de piedade pessoal, guerra à ausência do culto doméstico, guerra aos familiares incrédulos que desejam fazer prevalecer suas filosofias pagãs de vida, guerra à falta de compromisso com o Reino de Deus e com a igreja (sua agente), guerra à televisão, guerra à escravidão do trabalho (em casa ou fora) e consequentemente à falta de tempo para estar com a esposa(o) e filhos, conversar e se divertir com eles; guerra até mesmo ao ativismo de algumas igrejas e pastores.

Você e eu deveríamos ter como uma de nossas prioridades o cultivo de relacionamentos próximos e significativos (a fim de que sejam saudáveis) tanto pessoais como familiares. Conheço muitas pessoas que vivem sozinhas, que não conhecem ninguém e nem são conhecidas, o que indica que elas não ajudam e não são ajudadas naquilo que mais precisam, e isto é igualmente verdade no que diz respeito a muitas famílias. Tome a firme resolução (pois é necessário) de estar mais aberto a relacionamentos, quem sabe assim você, até, comece a cultivar uma ou duas amizades que vão enriquecer sua vida sobremaneira (aliás, acho que foi Cìcero quem disse que quem não tem amigos não sabe o que é viver). Não viva sozinho em 2010, Deus não fez você para estar assim.

Você e eu deveríamos pensar mais e mais seriamente sobre a eternidade ou a vida após esta vida, tanto no sentido de cultivarmos a certeza de que Jesus em nós é a esperança da glória (e não do céu na terra agora, como muitos tem pregado), como para que não nos deixemos levar pelas coisas daqui, sejam as boas que podem nos fazer perder de vista que o que precisamos mesmo é de uma só coisa: estar com o Senhor, sejam as ruins que podem fazer o nosso coração esquecer que Deus tem um propósito especial reservado para aqueles que são seus, e este propósito não pode ser frustrado por nada e ninguém. Como afirmou Lewis, fomos criados para outro mundo, nunca poderemos estar tão bem aqui; faz bem pensar e viver a partir da eternidade, faz bem viver para a eternidade.

Viva em 2010 como quem já aprendeu que viver bem é viver Cristo e morrer bem é morrer em Cristo; quer, pois, vivamos ou morramos somos do Senhor. Deus o abençoe e a mim também. Ademais, perdoe-nos se achar que no caso do “escritor”, não foi tomada a resolução, para você necessária, de ter preparado melhor o texto, corrigido o manuscrito e, quem sabe, se adequado melhor às novas “resoluções” da língua portuguesa. Caso encontre algum erro comprometedor, avise-me por favor.

Rev. Djaik Souza Neves - Capelão do Instituto Samuel Graham - Jataí - Go.
Mestrando em Teologia Sistemática pelo Andrew Jumper
revdjaik@uol.com.br

Ecclesia reformata et semper reformanda est

Seguindo o princípio de nossos pais reformadores que, reconhecendo a realidade provisória da igreja em relação ao pecado, entenderam que a igreja precisava de uma reforma "radical" não só naqueles dias mas enquanto existir deste lado da eternidade, é que elaboramos este blog que tem o propósito de ensinar a sã doutrina das Escrituras Sagradas (também chamada de Teologia), pois é à luz da Inerrante e Suficiente Palavra de Deus que a igreja deve ser reformada e estar sempre se reformando, para se conformar à vontade do Dono da Igreja e alcançar a perfeita varonilidade em Cristo Jesus. Soli Deo Gloria