O PODER DA PRESENÇA
A proveitosa leitura de “Deus em Questão”, um livro que simula um debate entre o grande psicanalista, Sigmund Freud e o profícuo literato e escritor inglês C.S. Lewis, sobre várias questões, me ajudou a entender uma estranha, mas comum, sensação que todos parecem ter quando estão diante do sofrimento mais intenso de alguém, especialmente no caso do luto: a sensação de que não temos nada para dizer.
Particularmente confesso que, no caso do luto, até os populares “meus pêsames” ou “meus sentimentos” me parecem vagos e inúteis, o que mormente me conduz à resignação e ao silêncio reverente. Mas o livro, especificamente no tópico em que mostra as visões do ateu e do cristão sobre o sofrimento, não só confirmou minha teoria da inutilidade das palavras humanas frente ao luto ou a uma dor mais intensa, mas indicou um caminho simples, mas especialmente relevante em meio ao sofrimento e à dor do outro: a presença.
Relatando sua própria experiência, Lewis diz que em meio à dor mais intensa do luto, ele não gostava de ficar sozinho e até tinha temor da casa vazia; no entanto, também não tinha vontade de falar com ninguém e preferia que ninguém falasse com ele, mas não porque realmente quisesse ficar sozinho, o que não queria era ter que conversar com quem quer que seja; para o criativo autor de Nárnia, seria bom que as pessoas ficassem por perto e até conversassem umas com as outras, pois a simples presença delas já seria suficiente para produzir o efeito necessário.
O psiquiatra Armand M. Nicholi, Jr., autor do livro, constata que é clinicamente comprovado que as pessoas enlutadas gostam de ter pessoas por perto, mas sem ter que efetivamente falar com elas, pois nessas horas o que importa mesmo é a “simples” presença. Como pastor, tenho aprendido a depender ainda mais de Deus em ocasiões assim, e mesmo me sentindo carente de palavras, entendo que foi especialmente para momentos como esses que Deus nos deixou a sua Palavra, que nos supre de palavras que de outra forma não teríamos, justamente porque nos conta a história do Deus que vem ao nosso encontro, que se revela como o Emanuel, o Deus conosco, especialmente quando a dor é mais profunda.
Precisamos ter consciência de que a nossa carência por relacionamentos é tão profunda que, mesmo em momentos em que achamos que palavra alguma poderá nos confortar ou animar, e ainda que pareça a todos e a nós mesmos que o que mais desejamos é ficar sozinhos, a presença de alguém que sabemos que nos ama e que se importa conosco faz toda a diferença e fala mais do que quaisquer palavras poderiam fazê-lo. Aliás, a experiência pessoal de Lewis e a experiência clínica do autor do livro indicam que, mesmo, a presença silenciosa vale mais que mil palavras.
Todos sabemos que os amigos de Jó falharam seriamente em sua visão sobre o motivo dos infortúnios do patriarca e, de fato, foram mais proclamadores de provérbios de vento do que de qualquer outra coisa; no entanto, no início de sua abordagem com Jó, eles acertaram em cheio; segundo o escritor sagrado, quando chegaram para ver aquele que, ficou conhecido como o homem mais paciente de todos e que, em suas próprias palavras, se tornara alvo do todo-poderoso, eles o viram de longe e puderam vislumbrar a intensidade do sofrimento do amigo, outrora cercado de benesses. Constrangidos, simplesmente se assentaram junto com ele em terra por sete dias e sete noites sem dizer palavra alguma, porque perceberam que o sofrimento de Jó era realmente muito grande.
Nesse sentido (e talvez só nesse), os amigos de Jó deveriam ser imitados, pois em situações semelhantes ao invés de nos arriscarmos com nossos conselhos (e, até, com algumas estranhas orações), devemos entender que a nossa simples presença faz muita diferença pois já dirá pra pessoa que sofre aquilo que ela mais precisa ouvir: “você não está sozinho”; “alguém se importa com você”. O mais importante, no entanto, quanto ao poder da presença, normalmente está oculto tanto aos olhos dos enlutados e entristecidos pelas agruras da vida como também aos olhos de quem, ainda que timidamente, deseja ofertar algum consolo: Deus está especialmente presente nas aflições, pois se revela como o Deus de misericórdias e de toda consolação e parece ter escolhido se a-presentar, ordinariamente, por meio de outros seres humanos, ainda que por vezes sem palavra alguma.
A convicção do poder da presença nos fará ver, como o salmista, que “o Senhor está conosco entre os que nos ajudam” (Salmo 101) e, com esta consciência, também nos disporemos a sermos usados por Ele nos fazendo presentes em meio às perdas e às vicissitudes que atingem o próximo.
Rev. Djaik Neves
Capelão do Instituto Presbiteriano Samuel Graham
Mestrando em Divindade pelo Andrew Jumper – SP.
A proveitosa leitura de “Deus em Questão”, um livro que simula um debate entre o grande psicanalista, Sigmund Freud e o profícuo literato e escritor inglês C.S. Lewis, sobre várias questões, me ajudou a entender uma estranha, mas comum, sensação que todos parecem ter quando estão diante do sofrimento mais intenso de alguém, especialmente no caso do luto: a sensação de que não temos nada para dizer.
Particularmente confesso que, no caso do luto, até os populares “meus pêsames” ou “meus sentimentos” me parecem vagos e inúteis, o que mormente me conduz à resignação e ao silêncio reverente. Mas o livro, especificamente no tópico em que mostra as visões do ateu e do cristão sobre o sofrimento, não só confirmou minha teoria da inutilidade das palavras humanas frente ao luto ou a uma dor mais intensa, mas indicou um caminho simples, mas especialmente relevante em meio ao sofrimento e à dor do outro: a presença.
Relatando sua própria experiência, Lewis diz que em meio à dor mais intensa do luto, ele não gostava de ficar sozinho e até tinha temor da casa vazia; no entanto, também não tinha vontade de falar com ninguém e preferia que ninguém falasse com ele, mas não porque realmente quisesse ficar sozinho, o que não queria era ter que conversar com quem quer que seja; para o criativo autor de Nárnia, seria bom que as pessoas ficassem por perto e até conversassem umas com as outras, pois a simples presença delas já seria suficiente para produzir o efeito necessário.
O psiquiatra Armand M. Nicholi, Jr., autor do livro, constata que é clinicamente comprovado que as pessoas enlutadas gostam de ter pessoas por perto, mas sem ter que efetivamente falar com elas, pois nessas horas o que importa mesmo é a “simples” presença. Como pastor, tenho aprendido a depender ainda mais de Deus em ocasiões assim, e mesmo me sentindo carente de palavras, entendo que foi especialmente para momentos como esses que Deus nos deixou a sua Palavra, que nos supre de palavras que de outra forma não teríamos, justamente porque nos conta a história do Deus que vem ao nosso encontro, que se revela como o Emanuel, o Deus conosco, especialmente quando a dor é mais profunda.
Precisamos ter consciência de que a nossa carência por relacionamentos é tão profunda que, mesmo em momentos em que achamos que palavra alguma poderá nos confortar ou animar, e ainda que pareça a todos e a nós mesmos que o que mais desejamos é ficar sozinhos, a presença de alguém que sabemos que nos ama e que se importa conosco faz toda a diferença e fala mais do que quaisquer palavras poderiam fazê-lo. Aliás, a experiência pessoal de Lewis e a experiência clínica do autor do livro indicam que, mesmo, a presença silenciosa vale mais que mil palavras.
Todos sabemos que os amigos de Jó falharam seriamente em sua visão sobre o motivo dos infortúnios do patriarca e, de fato, foram mais proclamadores de provérbios de vento do que de qualquer outra coisa; no entanto, no início de sua abordagem com Jó, eles acertaram em cheio; segundo o escritor sagrado, quando chegaram para ver aquele que, ficou conhecido como o homem mais paciente de todos e que, em suas próprias palavras, se tornara alvo do todo-poderoso, eles o viram de longe e puderam vislumbrar a intensidade do sofrimento do amigo, outrora cercado de benesses. Constrangidos, simplesmente se assentaram junto com ele em terra por sete dias e sete noites sem dizer palavra alguma, porque perceberam que o sofrimento de Jó era realmente muito grande.
Nesse sentido (e talvez só nesse), os amigos de Jó deveriam ser imitados, pois em situações semelhantes ao invés de nos arriscarmos com nossos conselhos (e, até, com algumas estranhas orações), devemos entender que a nossa simples presença faz muita diferença pois já dirá pra pessoa que sofre aquilo que ela mais precisa ouvir: “você não está sozinho”; “alguém se importa com você”. O mais importante, no entanto, quanto ao poder da presença, normalmente está oculto tanto aos olhos dos enlutados e entristecidos pelas agruras da vida como também aos olhos de quem, ainda que timidamente, deseja ofertar algum consolo: Deus está especialmente presente nas aflições, pois se revela como o Deus de misericórdias e de toda consolação e parece ter escolhido se a-presentar, ordinariamente, por meio de outros seres humanos, ainda que por vezes sem palavra alguma.
A convicção do poder da presença nos fará ver, como o salmista, que “o Senhor está conosco entre os que nos ajudam” (Salmo 101) e, com esta consciência, também nos disporemos a sermos usados por Ele nos fazendo presentes em meio às perdas e às vicissitudes que atingem o próximo.
Rev. Djaik Neves
Capelão do Instituto Presbiteriano Samuel Graham
Mestrando em Divindade pelo Andrew Jumper – SP.
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