GÁLATAS 1.10-24
Introdução
Desde algum tempo tem sido muito comum dois extremos no que diz respeito
ao nosso testemunho de vida cristã. Por um lado nós temos aqueles irmãozinhos e
aquelas igrejas que acham que seu testemunho é tudo (ex traficante, ex
prostituta... ex...40 minutos falando de sua vida pregressa e 10 falando de
Jesus e do evangelho); por outro lado, para alguns (geralmente o erro dos mais
tradicionais), é quase proibido falar de si mesmo e, em muitos casos, parece não
se ter mesmo o que falar dada à mera intelectualidade ou racionalismo em que se
está envolvido.
Ao dar o seu testemunho, Paulo não só nos instrui mas também estabelece
o equilíbrio e a ênfase necessária neste aspecto. Vale
lembrar que, por conta da natureza desta literatura, uma carta, já temos algo
que nos conduz a um relacionamento e intimidade entre remetente e destinatário,
o que já deveria também nos motivar no que diz respeito ao relacionamento com
Deus. Mas como veremos, a princípio, seu testemunho tinham um propósito ainda
mais específico.
PAULO EXPÕE SEU TESTEMUNHO
Sem dúvida alguma para esclarecer maus entendidos e insinuações maldosas
a seu respeito, mas também para combater os que procuravam “agradar a homens”. Paulo
inicia sua carta propriamente dita defendendo a si mesmo e o propósito de seu
ministério.
Paulo parece fazer um tipo de jogo com as ideias a fim de, ao mesmo
tempo, defender o que ele pregava e combater a heresia. A ironia está no fato
de que os gálatas estavam se deixando levar por um “outro” evangelho, que na
verdade não era evangelho coisa nenhuma, pois foi engendrado pelo próprio homem
“amante da lei” e defensor do judaísmo, o que significava, como já vimos, uma
perversão ou corrupção do verdadeiro evangelho.
O apóstolo faz questão de mostrar que, no evangelho que ele pregava, não
agradava aos homens mas, ao falar desta forma, ele parece já apontar para o
fato de que a perversão do evangelho que estava invadindo as igrejas da Galácia
tinha a evidente motivação de agradar
aos judeus.
Aplicação: a covardia dos pregadores de nossos dias que, ao
invés de se esforçar por agradar a Deus, agradam aos homens em suas pregações e
programas.
PAULO DEFENDE O EVANGELHO QUE O
SALVOU E SEU MINISTÉRIO
Mas como é evidente no texto, a defesa que Paulo faz de si mesmo é
apenas uma ponte para a defesa de algo muito maior, o evangelho que ele
pregava. Na verdade, Paulo via a si mesmo como um mero instrumento por meio do
qual o evangelho havia sido revelado. Em algum lugar ele até reconhece que fez
muito e, até, mais que os outros apóstolos, mas não ele, a graça de Deus com
ele.
E assim, ele faz questão de dizer que o que ele pregava não era uma
mensagem humana (não se originava nele e nem em qualquer outro homem), mas
foi-lhe revelada pelo próprio Salvador, que também era o Messias enviado de
Deus (daí o nome Jesus Cristo).
Paulo aponta para o fato de que, diferente daqueles que tinham um
“evangelho” deles mesmos para anunciar, o evangelho que Paulo ele recebera e pregava
a ele e para o qual agora também apontava não era do homem ou “segundo o
homem”, o que significava que ele não precisava agradar a homens ao pregá-lo
ou, mesmo, ter o favor dos homens para isso.
Confirmando uma vez mais seu chamado a ser apóstolo e a origem divina de
sua mensagem, apóstolo arremata este primeiro momento falando que, que no caso
dele, Deus sequer usou um homem comum para lhe transmitir a boa nova (como fez
no passado), usou o próprio Filho para lhe entregar o evangelho que ele deveria
pregar especialmente aos que não eram judeus. Curiosamente, parece que os 3 anos que Paulo passou na
Arábia, ele passou recebendo a revelação do Evangelho do próprio Jesus.
Coincidentemente o mesmo tempo que os demais apóstolos passaram com Jesus em
seus ministério terreno.
Em contraste ao evangelho que recebeu, Paulo relembra que antes disso
ele era um defensor ferrenho do judaísmo ou, em sua linguagem, das tradições de
seus pais e, por este motivo, tornou-se o mais implacável inimigo de Jesus e
mais cruel perseguidor dos crentes. Ele ainda faz questão de acrescentar que
estava à frente dos jovens da sua idade no seu zelo pela lei (sendo o perfeito
exemplo do que falamos semana passada sobre o legalismo, a “lei pela lei”). Mas
Deus o havia escolhido antes que ele nascesse (talvez ele tenha se lembrado do
patriarca Jacó e do profeta Jeremias) para que Cristo fosse revelado nele e
assim aconteceu. Sem dúvida alguma, Paulo ressalta o antes e depois de Cristo
na sua vida para mostrar não só a mudança radical que lhe acometeu, mas também
para apontar o erro em que os judaizantes estavam incorrendo em permanecer na
lei ao invés de avançar para o seu cumprimento que é Cristo e, pior, insistir
em fazer a igreja “regredir” para as “obras da lei”.
PAULO E OS DEMAIS APÓSTOLOS
Logo no início da carta, Paulo faz questão de se apresentar como
apóstolo e, ainda acrescenta, que era da parte de Deus e não dos homens. Isto
tem uma razão de ser, bem como o seu testemunho nos versos que estamos
estudando.
Como já disse anteriormente, aqueles que eram “das obras da lei”,
conforme a linguagem do apóstolo faziam o que estava ao seu alcance não só para
impor a sua versão do evangelho, mas também para “queimar o apóstolo”. E eles
tentavam distorcer a imagem do apóstolo por dois lados: primeiro alegando que Paulo desprezava a lei de Moisés e até
incentivava o seu não cumprimento; por outro lado, eles tentavam minar a
autoridade do apóstolo comparando-o aos outros apóstolos que estiveram
pessoalmente com Jesus em seu ministério terreno e foram designados por Ele,
anteriormente a Paulo.
Para combater tais intenções, o apóstolo ressalta em primeiro lugar a
escolha dele por Deus, que não tinha nada a ver com qualquer mérito pessoal,
visto que ele havia sido escolhido antes de nascer, mas tinha a ver com o
propósito soberano e gracioso do Pai. E tendo sido escolhido pelo próprio Deus
e recebido a revelação do Filho, Paulo assevera que não precisaria de
confirmação ou aprovação humana.
Mesmo assim, conquanto defenda sua “independência” dos apóstolos em
termos de aprovação, faz questão de mostrar que ele esteve com Pedro, o
primeiro grande líder da igreja, e também com Tiago, irmão de Jesus, convertido
após a ressurreição e que também se tornou líder na igreja de Jerusalém. Além
disso, mesmo aqueles irmãos que ainda não o tinham visto, glorificavam a Deus a
respeito da sua conversão.
Assim, o apóstolo demonstra que não só tinha uma autoridade outorgada
pelo próprio Deus mas também tinha a aprovação dos apóstolos e o testemunho da
igreja a respeito da sua conversão. O suposto distanciamento de Paulo dos
demais apóstolos e a alegada discordância
CONCLUSÃO
“A surpreendente graça de Deus” é o título que o escritor Timothy Keller
dá para esta seção em seu comentário. Ainda que eu ache que ele se adiantou ao
que Paulo vai expor mais à frente, se for para escolher entre a minha proposta
de tema e a dela, fique com a dele.
Mas é interessante destacarmos que, por meio do testemunho da mudança
ocorrida em sua sua vida, que o fez quem ele era, Paulo demonstra que a lei não
era suficiente para salvá-lo e, o mais sério, alegar que as “obras da lei” eram
também necessária além da fé em Cristo e sua obra para Paulo era, no mínimo,
uma ofensa, mas também poderia comprometer a própria salvação que pressupõe a
exclusividades de Jesus.
E ainda que tenhamos que considerar em um primeiro momento, o papel também
exclusivo de Paulo e dos demais apóstolos como instrumentos de revelação, não
podemos perder de vista que todos nós que cremos nele e o temos em nossa vida nos
tornamos suas testemunhas, de modo que podemos fazer coro com o apóstolo da
graça: “não sou mais eu quem vive, mas Cristo vive em mim”.
Além de também estarmos comprometidos com a grande comissão para “fazermos
outros discípulos” e também fomos chamados a ser firmes na defesa da verdade do
evangelho contra os hereges e inimigos da fé, tão nocivos quanto os daqueles
dias.
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