A REFORMA E AS BATATAS

Quando eu ainda estava no Seminário tínhamos um professor que todas as vezes que se referia a contextualização de uma mensagem dizia: “mas o que isso muda no preço das batatas na feira?” No começo achei bem interessante e cômica esta frase. Entretanto, com o tempo, percebi sua profundidade e seriedade. Tenho observado que ela ilustra perfeitamente a junção do que cremos com a forma que vivemos. Ao analisar nossa vida, tenho percebido uma disparidade entre nossas crenças e nossas ações. Será que é possível crer em algo e não praticá-lo? Se é, chegamos a conclusão lógica que saber não é necessário. Se não, podemos concluir que não sabemos e por isso não praticamos. Por exemplo: Sabemos que devemos lançar toda nossa ansiedade em Deus (1 Pe 5.7), mas na primeira situação de tensão nos desesperamos porque percebemos que perdemos o controle.
A reforma protestante foi formulada em cima de cinco pilares teológicos, ou como são mais conhecidos, os cinco Solas. A grande questão é: “Qual a importância desses pilares para o meu dia-a-dia?” “O que a reforma muda no preço das batatas?”
Ao ler o texto de Romanos 1.17 e entender que o justo vive pela fé, Lutero mudou tudo em sua vida. Isso mudou o rumo das coisas em sua jornada. Lutero entendeu que somente a fé em Jesus e por meio da graça encontrada nas Escrituras seriamos Salvos, e portanto, a Glória deveria ser dada somente a Deus.
Entender que somos salvos pela fé muda toda nossa perspectiva de vida. Ainda hoje há pessoas afirmando que só serão salvas pela forma de viverem e acreditam que sua salvação está no fato de fazer isso ou aquilo. Por causa desse pensamento, tem muito cristão fazendo as coisas para conseguir o favor de Deus, uma espécie de “mediazinha” com DEUS. Portanto, “faço para” obter a salvação e se em algum momento eu falho, perco-a. Contudo, as Escrituras nos mostram que a salvação é uma garantia dada por Cristo e que isso é pela fé somente. Dessa forma, tudo o que faço, “faço porque” Jesus me amou e pagou o preço por mim na cruz. Desenvolvo uma vida de santidade como gratidão e não como troca. Essa é a maravilha da graça, é entender que não merecíamos, mas Jesus nos amou e como diz Paulo, fomos libertados por uma “graça gratuita”.
O que isso tudo tem haver com as batatas? Se descasco uma batata para o almoço, penso no fato de Cristo ter morrido por mim naquela cruz e, por amor ao Senhor Jesus, farei o melhor purê que eu conseguir. Se sou vendedor de batatas, colocarei um preço justo, não como uma forma de me considerar justo diante de Deus ou para conseguir alguma média com Deus. Deus me amou e morreu por mim naquela cruz e eu serei justo no preço das batatas por amor ao Senhor.
É claro que as “batatas” são apenas demonstrações de nosso dia-a-dia. Em outras palavras, crer que vivemos pela fé, um dos pontos fundamentais da reforma protestante, tira de nós um peso enorme de garantir a salvação por meio de nossos esforços, ou pela lei como faziam os fariseus. Se vou a igreja, oro, jejuo, leio a Bíblia, não peco, me arrependo, sou um bom visinho, uma pessoa justa no meu trabalho, uma pessoa honesta, só o faço por gratidão pois tenho a consciência de que não preciso fazer mais nada para obter a salvação. Contudo, como diz Paulo, morremos para o pecado (Romanos 6.1-3) e ainda Jesus afirma que os que o amam, obedecem os seus mandamentos. A partir do momento em que crermos nisso nossas práticas serão conseqüências. É impossível realmente crermos nisso e ainda continuarmos em práticas desonrosas a Deus. Se cremos que fomos salvos pela fé em Jesus Cristo e que isso é um meio de Graça encontrado nas Escrituras, vivamos como tal. Por isso, façamos tudo para a glória de Deus.

Soli deo Glória!

Rev. Adailton Duarte Silva