29 de outubro de 2012

A RESPOSTA DE DEUS PARA O SOFRIMENTO - PARTE 2

                
            Não tenho dúvidas de que vai parecer uma boa desculpa para um novo artigo, mas não posso deixar de dizer que refletir sobre o que escrevi anteriormente sobre o envolvimento de Deus com o nosso sofrimento deixou-me com a sensação de que estava faltando alguma coisa.
            Minha expectativa no que, inadvertidamente, acabou se tornando a primeira parte de uma reflexão um pouco maior, foi mostrar que, diferente do que normalmente se diz ou se imagina, especialmente em tempos de dor e angústia, Deus está bem próximo dos que sofrem.
O propósito foi, mesmo, que quando concluíssemos a leitura e reflexão estivéssemos convictos de que, em Cristo, Deus se tornou muito parecido conosco (daí poder sofrer e, de fato, ter sofrido), o que pode parecer uma grande heresia, a princípio, mas os nossos primeiros defensores da fé foram mais longe ao dizer que Jesus era “vero homem” ou verdadeiramente homem. E suas palavras foram uma tentativa de expressar aquilo que a própria Escritura disse sobre o “Deus-Filho” ou o “Cristo Jesus, homem”, conforme o apóstolo Paulo.
            No entanto, se não formos além (daí uma tentativa de complemento), podemos cometer o sério equívoco de ver olhar para Jesus somente como um grande homem, um grande sábio, um outro importante profeta (o maior deles?) ou, mesmo, apenas um amigão dos melhores que sempre se coloca ao nosso lado e chora conosco.
            Muito mais do que um ser humano com os melhores adjetivos que pudermos imaginar e, como percebemos em outros, uma pessoa com um “coração de ouro” e uma disposição ímpar de exercer misericórdia sobre os que sofrem; Jesus é, por assim dizer, o “dono do negócio”. Sua história não teria a repercussão que teve se ele fosse apenas mais um, ou mesmo, o maior, dentre os grandes e reconhecidos seres humanos que já passaram por este mundo.
            A Bíblia ressalta a humanidade dele e sua semelhança com a criatura, a ponto de dizer que ele se tornou nosso irmão, mas enfatiza de tal forma sua origem divina, unidade com Deus e seu poder sobrenatural que, com respeito a ele, cabe muito bem o epíteto de “totalmente outro”, que alguns teólogos atribuem ao Eterno, mostrando que Deus é infinita e essencialmente diferente da criação e superior a ela.
            É justamente esta soberania e poder que complementam, de um modo fundamental, o que aprendemos sobre a bondade misericordiosa de Deus com respeito aos que sofrem. Na verdade, a própria ideia de Deus, conforme revelada nas Escrituras, já aponta para alguém que é Eterno e, além de criar todas as coisas simplesmente com sua palavra, também sustenta toda a criação “pela palavra do seu poder”, conduzindo assim a história para o bom propósito estabelecido por Ele mesmo antes de todas as coisas. E quanto a Jesus, o Filho, é dito que Ele “é a expressão exata do Ser de Deus”. Daí os nossos “pais” não só dizerem que Ele era “vero homem”, mas também “vero Deus” (verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus).
            Um dos propósitos fundamentais da revelação de Deus em sua Palavra foi justamente revelar o Deus que é Senhor da história, que governa os governos, que põe e tira os reis, que abre e fecha as portas; o Deus para quem, segundo sua própria Palavra, não há nada difícil e cuja vontade ninguém pode contrariar ou impedir.
            Por isso, mais do que simplesmente se identificar conosco no melhor sentido da expressão, Deus “responde” ao nosso sofrimento de um modo superior e decisivamente relevante. Podermos nos aproximar dEle, em nossas necessidades, com confiança e, até, com gratidão, convictos de que Ele pode até não querer resolver especificamente algum problema que lhe for apresentado, mas sem dúvida alguma, tem poder para fazê-lo.
            A cruz (e a salvação que resulta dela) é não só a “simpática”[1] resposta de Deus para o sofrimento ou para “o problema do mal”, mas também a maior evidência do poder de Deus já que, diferente do que normalmente imaginamos, o real problema do homem não é aquilo que se pode ver ou sentir e nem mesmo as tragédias naturais (que, dizem, são as que mais resultaram em mortes ao longo da história); o maior problema do homem é o pecado ou a rebelião inerente à natureza humana, que, segundo a Bíblia, é a grande causa da instabilidade e das convulsões da natureza,  atinge a todos os homens indiscriminadamente e faz o nosso coração, para usar uma linguagem bíblica, “continuamente mau”, “enganoso” e “desesperadamente corrupto”.
            Daí que mesmo correndo o risco de não ser mais tão “simpático” ao sofrimento de alguns, não posso deixar de concluir ressaltando que “a Cruz de Cristo”, que é a resposta de Deus para o sofrimento, nos convida ou nos convoca a reconhecermos com sinceridade que, conquanto tenhamos muitos problemas e infortúnios os mais diversos que, tantas vezes, nos fazem amargar a própria existência, o nosso problema maior agora e, especialmente, na eternidade quando nos veremos diante do justo Juiz, é o pecado ou “o mal que habita em nós”, sobre o qual temos responsabilidade.
            A partir deste reconhecimento, que a Bíblia chama de arrependimento (literalmente “mudança de mente” em grego), que é precedido e motivado pela fé em Jesus, o nosso intercessor, somos reconciliados com Deus, cujo relacionamento conosco nos dá segurança para enfrentarmos qualquer dificuldade, crises ou dor nesta terra e, especialmente, nos garante a vida e alegria eternas na presença dEle.                                                    Rev. Djaik Neves


[1] Palavra transliterada do grego que significa “sofrer junto”

10 de outubro de 2012

A RESPOSTA DE DEUS PARA O SOFRIMENTO


            Que existe alguma coisa errada com o mundo e com a nossa vida, eu penso que ninguém, em sã consciência, tem coragem de negar. Mas, todos nos acostumamos com o sofrimento em geral e, geralmente, “administramos” (leia-se “empurramos com a barriga”) aquelas questões mais próximas de nós que nos fazem sofrer. Em outras palavras, normalmente, não estamos dispostos a refletir seriamente sobre “o problema do sofrimento”. E quanto a isso, Augusto Cury foi preciso ao dizer que somos excelentes atores no que diz respeito à nossa própria existência e mascarar nossas verdadeiras emoções, enganamos bem; o problema é que não enganamos só aos outros, enganamos a nós mesmos também e, o pior, nos acostumamos com isso.

            Mas a questão maior no que se refere ao “problema do sofrimento” pode ser resumida nas seguintes duas perguntas comuns: “por que coisas ruíns acontecem a pessoas boas?”; e “onde está Deus quando sofremos”?

            Sem entrarmos no mérito sobre se, de fato, existem pessoas “boas” (o que tornaria a pergunta incoerente) ou nos aventurarmos em questões teológicas e filosóficas sobre “a origem do mal”, e considerando nossas limitações na compreensão de tantos detalhes que envolvem o sofrimento em geral, gostaria apenas de informar-lhe a resposta de Deus para o sofrimento (de qualquer natureza e de qualquer pessoa), conforme a Bíblia nos diz.

            Diferente do que normalmente se diz ou se sente, o Deus da Bíblia, o Deus cristão é um “Deus sofredor” e a demonstração deste sofrimento e, mais precisamente, da “compaixão” (em grego: “sofrer junto”) de Deus em relação ao nosso sofrimento é “a Cruz de Cristo”.

            Curiosamente, a ridicularização de Deus feita por Nietzsche, se encaixa como uma luva no que as Escrituras revelam sobre Ele e sua relação com nosso sofrimento. Segundo o filósofo da “morte de Deus”, o Deus cristão é o “Deus sobre a cruz”. Nisto ele tinha razão, pois é justamente neste aspecto  que Deus se revela como um Deus de amor, um Deus que se importa conosco; um Deus que se envolveu de uma tal forma com nosso sofrimento que veio, assumiu a nossa carne limitada e mortal, sofreu e, por fim, entregou-se à morte para que o sofrimento e a morte perdessem o seu poder sobre aqueles que crerem e se entregarem a Ele.

 Esse é Deus pra mim! Ele deixou de lado sua imunidade à dor. Ele entrou em nosso mundo de carne e osso, lágrimas e morte. Ele sofreu por nós. Nossos sofrimentos se tornam mais suportáveis à luz do sofrimento dele.
                                                                   John Stott, escritor inglês

            O Deus da Bíblia, o Deus dos cristãos é o Deus que se revelou como o “Emanuel” (Deus conosco). Longe de ser um Deus indiferente e distante no que diz respeito ao nosso sofrimento, o único Deus vivo e verdadeiro, criador dos céus e da terra e todo-poderoso, é o Deus que se “esvaziou”, revelando-se como o “Servo sofredor”, Jesus, que deu um rosto pra Deus e este rosto estava molhado de lágrimas.

            Você não precisa sofrer sozinho e para sempre, recorra a  Ele.                                                                             Rev. Djaik
                                                                                                                                      




 

29 de abril de 2012

Vivendo e Morrendo para Deus

            “Existem apenas dois princípios de vida moral no Universo, um baseia-se em nós mesmos, o bem mais limitado e pessoal; o outro baseia-se em Deus, que pode ser chamado de bem universal.” (Madame Guyon, mística francesa do século XVIII)
            É comum acharmos que temos muitas opções no modo como nós vamos viver. De fato, num certo sentido, a nossa vida está dividida em vários departamentos e, por isso, por vezes, nós parecemos ser diferentes pessoas, dependendo do lugar onde nós estamos ou com quem estamos. O problema é quando caímos no relativismo de achar que podemos agir conforme a ocasião e não de acordo com o que é certo ou errado; mais sério ainda é acharmos que nós mesmos somos os juízes da nossa vida, e podemos decidir por nossa própria conta o que fazer.
            Viver para si mesmo produz a sensação inicial de que as coisas vão dar certo, e não é difícil continuarmos assim por muitos anos como que achando que o mundo deve girar ao redor de nós (talvez por isso a descoberta, na idade média, de que não era tudo que girava em torno da terra, mas a terra era parte do tudo que girava em torno do sol tenha causado tanto frisson). Nós, naturalmente, gostamos de ser o centro; o problema maior deste eu-centrismo é quando nos defrontamos com outros, iguais a nós que acham que o mundo deve girar é ao redor deles. Neste egocentrismo generalizado, há até quem use a religião e tente usar o próprio Deus para satisfazer seus anseios por reconhecimento e adoração. Calvino resumiu isso muito bem dizendo que “o nosso coração é uma fábrica de ídolos”.
            O texto citado no início, combinado com o desafio das Escrituras e da própria postura de Jesus enquanto aqui esteve, nos convida a entendermos que, diferente do que nós normalmente desejamos, a vida não se baseia e não deve se basear em nós mesmos, mas em Deus que é a origem e o fim de todas as coisas. Segundo sua própria Palavra, tudo começa e termina nele e a nossa vida, como sugere um escritor, precisa ser “um esforço para mudar o foco de minha pessoa para Deus”.
            Um bom teste e, na verdade, também uma boa precaução para o modo como agimos é nos perguntar sempre não o que eu quero fazer, mas o que Deus gostaria que eu fizesse; devemos atentar, não para o que as pessoas vão achar disso ou daquilo, mas qual a opinião de Deus a respeito do assunto. Tenho certeza que assumir tal postura, mudaria radicalmente a maneira como nos comportamos diante das situações que envolvem o que é justo e certo e o que é injusto e errado e, sem dúvida, afetaria grandemente o conteúdo das nossas conversas, especialmente aquilo que falamos dos outros.
            Jesus veio também para nos mostrar as implicações de se viver tendo Deus como centro da existência e, naturalmente, a alegria que tal postura produz. É nos voltando para ele, não simplesmente com algum tipo de religiosidade, mas com toda a nossa vida, que encontramos o verdadeiro sentido da vida já que, conforme Paulo, “se vivemos, para o Senhor vivemos, se morremos para o Senhor morremos, quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor.” (Rm. 14.8)                                                 
Rev. Djaik Neves

14 de abril de 2012

Os “Apóstolos” de Hoje e a Didaquê

            É conhecido como instrução ou ensino dos apóstolos, o documento cristão mais antigo já encontrado, a exceção dos livros que fazem parte do cânon, chamado Didaquê, palavra grega que significa simplesmente ensino.
 
            Confesso que começar a estudar algo assim dá a sensação de uma nostalgia meio inútil e, até, de elucubração. Tendo lido algo sobre as questões históricas da Didaquê, voltei-me para o texto em si. Para minha surpresa, logo fui colocado diante de uma questão especialmente relevante em nossos tempos de cristianismo diverso e pretensos apóstolos.
 
            Na seção em que adverte quanto aos verdadeiros e falsos profetas, o documento estabelece um tremendo contraste entre os apóstolos de hoje e os de outrora. A propósito, Paulo já havia dito que os apóstolos do seu tempo foram colocados em último lugar e foram os que mais sofreram por causa do evangelho e da fidelidade a ele.
 
            Para a didaquê, se um indivíduo que se diz apóstolo pedir dinheiro é um falso profeta. E ainda “se alguém disser sob inspiração: ‘dê-me dinheiro’ ou qualquer outra coisa, não o escutem. Porém, se ele pedir para dar a outros necessitados, então ninguém o julgue”
 
            Segundo este critério, quase todos os “apóstolos” de hoje seriam reprovados e deveriam ser considerados falsos profetas, não só porque claramente tem se enriquecido à custa das ofertas dos simples e não fazendo cerimônia em exibir seus carrões, aviões, fazendas e roupas caríssimas, mas também fazem muito mal ao povo de Deus, alimentando e incentivando a avareza e a busca por riquezas, tão fortemente condenadas pelas Escrituras.
 
            A didaquê, já numa primeira leitura introdutória, não só me fez perceber que vale a pena estudar e me aprofundar em questões que, a princípio, não são tão atrativas, mas também, e especialmente, fez-me ver o quanto a igreja precisa se firmar cada vez mais na doutrina ou no ensino dos verdadeiros e únicos apóstolos que foram instruídos diretamente pelo próprio Senhor e por seu Espírito e, juntamente com os verdadeiros profetas, foram usados para lançar o fundamento sobre o qual a igreja deve ser edificada, as Escrituras Sagradas.                                                     Rev. Djaik

Ecclesia reformata et semper reformanda est

Seguindo o princípio de nossos pais reformadores que, reconhecendo a realidade provisória da igreja em relação ao pecado, entenderam que a igreja precisava de uma reforma "radical" não só naqueles dias mas enquanto existir deste lado da eternidade, é que elaboramos este blog que tem o propósito de ensinar a sã doutrina das Escrituras Sagradas (também chamada de Teologia), pois é à luz da Inerrante e Suficiente Palavra de Deus que a igreja deve ser reformada e estar sempre se reformando, para se conformar à vontade do Dono da Igreja e alcançar a perfeita varonilidade em Cristo Jesus. Soli Deo Gloria