
Não tenho dúvidas de que vai parecer uma boa desculpa
para um novo artigo, mas não posso deixar de dizer que refletir sobre o que
escrevi anteriormente sobre o envolvimento de Deus com o nosso sofrimento deixou-me
com a sensação de que estava faltando alguma coisa.
Minha expectativa no que, inadvertidamente, acabou se
tornando a primeira parte de uma reflexão um pouco maior, foi mostrar que,
diferente do que normalmente se diz ou se imagina, especialmente em tempos de
dor e angústia, Deus está bem próximo dos que sofrem.
O propósito foi,
mesmo, que quando concluíssemos a leitura e reflexão estivéssemos convictos de
que, em Cristo, Deus se tornou muito
parecido conosco (daí poder sofrer e, de fato, ter sofrido), o que pode
parecer uma grande heresia, a princípio, mas os nossos primeiros defensores da
fé foram mais longe ao dizer que Jesus era “vero homem” ou verdadeiramente
homem. E suas palavras foram uma tentativa de expressar aquilo que a própria
Escritura disse sobre o “Deus-Filho” ou o “Cristo Jesus, homem”, conforme o
apóstolo Paulo.
No entanto, se não formos além (daí uma tentativa de
complemento), podemos cometer o sério equívoco de ver olhar para Jesus somente
como um grande homem, um grande sábio, um outro importante profeta (o maior
deles?) ou, mesmo, apenas um amigão dos melhores que sempre se coloca ao nosso
lado e chora conosco.
Muito mais do que um ser humano com os melhores adjetivos
que pudermos imaginar e, como percebemos em outros, uma pessoa com um “coração
de ouro” e uma disposição ímpar de exercer misericórdia sobre os que sofrem;
Jesus é, por assim dizer, o “dono do negócio”. Sua história não teria a
repercussão que teve se ele fosse apenas mais um, ou mesmo, o maior, dentre os
grandes e reconhecidos seres humanos que já passaram por este mundo.
A Bíblia ressalta a humanidade dele e sua semelhança com
a criatura, a ponto de dizer que ele se tornou nosso irmão, mas enfatiza de tal
forma sua origem divina, unidade com Deus e seu poder sobrenatural que, com
respeito a ele, cabe muito bem o epíteto de “totalmente outro”, que alguns
teólogos atribuem ao Eterno, mostrando que Deus é infinita e essencialmente
diferente da criação e superior a ela.
É justamente esta soberania e poder que complementam, de
um modo fundamental, o que aprendemos sobre a bondade misericordiosa de Deus
com respeito aos que sofrem. Na verdade, a própria ideia de Deus, conforme
revelada nas Escrituras, já aponta para alguém que é Eterno e, além de criar
todas as coisas simplesmente com sua palavra, também sustenta toda a criação
“pela palavra do seu poder”, conduzindo assim a história para o bom propósito
estabelecido por Ele mesmo antes de todas as coisas. E quanto a Jesus, o Filho,
é dito que Ele “é a expressão exata do Ser de Deus”. Daí os nossos “pais” não
só dizerem que Ele era “vero homem”, mas também “vero Deus” (verdadeiramente
homem e verdadeiramente Deus).
Um dos propósitos fundamentais da revelação de Deus em
sua Palavra foi justamente revelar o Deus que é Senhor da história, que governa
os governos, que põe e tira os reis, que abre e fecha as portas; o Deus para
quem, segundo sua própria Palavra, não há nada difícil e cuja vontade ninguém
pode contrariar ou impedir.
Por isso, mais do que simplesmente se identificar conosco
no melhor sentido da expressão, Deus “responde” ao nosso sofrimento de um modo
superior e decisivamente relevante. Podermos nos aproximar dEle, em nossas
necessidades, com confiança e, até, com gratidão, convictos de que Ele pode até
não querer resolver especificamente algum problema que lhe for apresentado, mas
sem dúvida alguma, tem poder para fazê-lo.
A cruz (e a salvação que resulta dela) é não só a
“simpática”[1]
resposta de Deus para o sofrimento ou para “o problema do mal”, mas também a maior
evidência do poder de Deus já que, diferente do que normalmente imaginamos, o
real problema do homem não é aquilo que se pode ver ou sentir e nem mesmo as
tragédias naturais (que, dizem, são as que mais resultaram em mortes ao longo
da história); o maior problema do homem é o pecado ou a rebelião inerente à
natureza humana, que, segundo a Bíblia, é a grande causa da instabilidade e das
convulsões da natureza, atinge a todos
os homens indiscriminadamente e faz o nosso coração, para usar uma linguagem bíblica,
“continuamente mau”, “enganoso” e “desesperadamente corrupto”.
Daí que mesmo correndo o risco de não ser mais tão
“simpático” ao sofrimento de alguns, não posso deixar de concluir ressaltando
que “a Cruz de Cristo”, que é a resposta de Deus para o sofrimento, nos convida
ou nos convoca a reconhecermos com sinceridade que, conquanto tenhamos muitos
problemas e infortúnios os mais diversos que, tantas vezes, nos fazem amargar a
própria existência, o nosso problema maior agora e, especialmente, na eternidade
quando nos veremos diante do justo Juiz, é o pecado ou “o mal que habita em
nós”, sobre o qual temos responsabilidade.
A
partir deste reconhecimento, que a Bíblia chama de arrependimento (literalmente
“mudança de mente” em grego), que é precedido e motivado pela fé em Jesus, o
nosso intercessor, somos reconciliados com Deus, cujo relacionamento conosco
nos dá segurança para enfrentarmos qualquer dificuldade, crises ou dor nesta
terra e, especialmente, nos garante a vida e alegria eternas na presença dEle.
Rev. Djaik Neves
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